A Hipérbole do Metal – sobre os shows do Slayer

A recente turnê do Slayer por terras brasileiras evidenciou o que muita gente já sabia: esses thrashers de Bay Area definem como o heavy metal deve ser feito. As apresentações do grupo americano exageram todas as características do gênero: lacônicos, os músicos sobem silenciosos ao palco e despejam porrada atrás de porrada. Não há tempo para a plateia se preparar para a agressão, nem para respirar entre os golpes de fúria sonora. Um festival de peso, barulho e violência – o show dos caras é o mais próximo que a humanidade já chegou do ideal platônico de música extrema.

No dia 22 de setembro, esses animais impiedosos tocaram no Rock in Rio e brindaram os presentes com a própria essência do metal. E o público respondeu: os milhares de pessoas que se aglomeravam no Palco Mundo deixaram de ser simples indivíduos. Durante pouco mais de uma hora, se tornaram uma incontrolável massa humana que transformava a energia vinda do palco em moshpits de proporções assustadoras.



Não existe banda capaz de fazer o que o Slayer fez no Rock in Rio.

O Slayer não se preocupou em atualizar o repertório e despejou sobre os ouvintes toda a selvageria da melhor fase do grupo. Ninguém ligou se apenas três músicas do setlist foram compostas no século XXI. Pelo contrário, tanto melhor! Um desfile de faixas dos álbuns Show No Mercy, Hell Awaits, Reign in Blood, South of Heaven e Seasons In The Abyss – pra quê mais?  Nem mesmo a ausência do baterista Dave Lombardo, demitido, e do guitarrista Jeff Hanemann, falecido, diminuiu a grandeza do momento. Paul Bostaph e Gary Holt os substituíram à altura e mostraram entrosamento com Kerry King e Tom Araya.
Perto do final, as portas do Inferno se escancaram sob a cidade do rock. Os quatro músicos ousaram tocar as canções Seasons in the AbyssSouth of Heaven, Raining Blood e Angel of Death – a última em homenagem ao guitarrista morto – em sequência. A insanidade tomou conta do local.
Quando a loucura acabou, dois garotos cabeludos e de, no máximo, 16 anos, saíram da multidão. Um deles ostentava um gigantesco olho roxo e o outro estava com o nariz ensanguentado. Riam enquanto deixavam o palco para trás – não sabiam o que havia lhes acertado, se um cotovelo erguido na roda ou se a própria violência sonora do espetáculo que haviam presenciado.
Apoteótico, o Slayer fez o que toda banda de metal sonha em fazer.



Por Rodrigo Menegat
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