Metal sem fronteiras: globalização e barulho

Muita gente teme que a globalização cause a padronização da cultura - algo como um mundo dominado por lojas de fast food e música pop. A realidade demonstra erros nesse raciocínio. A mistura de referências, possibilitada pelas novas  tecnologias, elevou a criatividade humana de uma maneira sem precedentes.
A conexão entre pessoas de diferentes locais gerou um dos fenômenos mais surpreendentes da história recente: o hibridismo cultural. A mescla de influências distintas e distantes afeta todas as manifestações humanas, principalmente as artísticas. Uma das áreas mais influenciadas por essa tendência à mistura é a música e, também, o heavy metal.

O gosto pelo barulho superou, e faz tempo, as fronteiras e barreiras linguísticas. Talvez a conquista mundial tenha começado em 1991, quando bandas ocidentais cruzaram a cortina de ferro para tocar na URSS e foram recepcionadas por enlouquecidos jovens moscovitas.

James Hetfield, vocalista do Metallica, se apresenta em Moscou. Na mesma ocasião, aconteceram shows de Pantera, AC/DC e The Black Crowes, além da banda russa E.S.T
Entretanto, foi a partir do século XXI que as consequências mais curiosas e extremas da aldeia global começaram a aparecer no reino das guitarras em fúria. Os pessimistas juram que globalização é sinônimo de uniformização, mas o cenário musical prova o contrário. O que surge é, na verdade, uma salada de gêneros pitorescos.

No folk metal, estilo marcado pela influência de música folclórica regional, a mistura atinge proporções bizarras. Quem quer a prova só precisa ouvir grupos como o Raxa (russos que tocam doom metal com passagens de música tradicional maia) e o Whispered (finlandeses que usam instrumentos tradicionais do Japão para fazer death metal melódico).

A  capa do split das bandas iranianas Mogh e Cold Cry surpreende pelo anti-Islamismo explícito
Também é interessante notar como o extremismo ideológico e sonoro de algumas vertentes do metal prolifera em países improváveis. Consegue imaginar uma banda do Irã, terra dos aiatolás, que grava um álbum intitulado ‘O Islã está morto’? Ou uma banda de death metal no grã-fino reino de Monaco? Sim, isso existe.

De acordo com a Encyclopedia Metallum, existem bandas em cerca de 150 países e territórios, em locais tão distintos quanto Cuba, Madagascar e Mônaco. Mesmo que tenham referências em comum – as camisas pretas, os cabelos compridos, as mãos que fazem o clássico sinal do diabo –, cada região encontrou uma maneira própria de representar o gênero.

Vale conferir:
Os documentários Metal: A Headbangers Journey e Global Metal, do antropólogo metaleiro Sam Dunn.

Raxa – Starchildren (2013): álbum da banda russa de doom metal que mais gosta da América pré-colombiana. Influências de música maia, inca e asteca.

Força Macabra – Nos Túmulos Abertos (1995): apesar do nome em português, o disco é de uma banda finlandesa influenciada pelo hardcore tupiniquim, especialmente Ratos de Porão e Olho Seco. As letras também foram compostas usando a última flor do Lácio.

Whispered – Thousand Swords (2008): finlandeses que usam instrumentos tradicionais do Japão para fazer melodic death metal. Enjoativo, mas vale pelo teor curioso.

Seeds of Iblis – The Black Quran (2013): EP de uma suposta banda iraquiana de black metal anti-Islã. Além da coragem de vociferar contra Alá em um país rachado por tensões religiosas e ter uma mulher como vocalista - outra afronta ao extremismo islâmico -, esses caras fazem um som ótimo. Entretanto, há quem diga que a história da banda é, no mínimo, duvidosa.

Kabbal – Synthebtically Revived (2003): death metal de Mônaco. Fazendo barulho bem ao lado das casas de Galvão Bueno, Felipe Massa e outras figuras ilustres.

por Rodrigo Menegat
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